Sou do tempo do bloquinho,
Da poesia que brotava
Que nem água pura da fonte.
Não dessa que se copia,
Se reinventa, se recria
Nas telas da tecnologia.
Sou do tempo da métrica,
Do ritmo e da rima,
Daquela que só prima
Pela pura melodia.
Do romantismo, modernismo,
Redondilhas e pentâmetros,
Ditirambo e cantarrilhas,
Tantas regras e parâmetros,
Grilhetas e armadilhas.
Dos livros de cabeceira,
Companheiros vida inteira
Nos momentos de fadiga.
(Quantas árvores deram a vida
Para enfeitar prateleira.)
Hoje a vida passa na tela
Tão depressa quanto ela,
Ao alcance de um toque.
Entre toques e retoques
Surge nova poesia,
Como passe de magia,
Da cartola “mágicoeta”.
Poesia não se recria,
Nem nas telas da magia.
Também não se aprende,
Não se tolhe, nem se vende.
Poesia é ave sem ninho,
Nas asas da inspiração.
Poesia é alma, é coração,
Tem vida, tem cor, tem som.
Aceder à tecnologia,
Ser poeta "ponto com",
É jogar fora as amarras,
Ceder carta de alforria,
Abrir portas de gaiolas
Deixar sair a poesia ...
Bater asas e voar,
Sem se importar, todavia,
Onde ela vai pousar.